sexta-feira, agosto 24, 2012


“O Segredo da Cabana” (Drew Goddard)



Subverter os clichês de um gênero cinematográfico é sempre saudável, porém perigoso. A chance de se escorregar para o pastiche é muito grande. Principalmente se o gênero em questão é o terror.

Felizmente, Drew Goddard dá conta do recado. E muito bem. “O Segredo da Cabana” enfileira os clichês do gênero com previsibilidade absurda. Mas desde o início sabemos que existe uma manipulação extremamente calculada oculta nesta obviedade. E nem por a coisa toda fica menos assustadora.

As homenagens ao gênero pipocam a todo momento, de “Hellraiser” às pálidas crianças fantasmagóricas dos filmes de terror japoneses, passando por palhaços, árvores revoltadas, cobras gigantes, elevadores que cospem sangue, zumbis e tritões. Mas a referência principal é mesmo “The Evil Dead”. Ela permeia todo o primeiro ato, com a reprodução quase que em fac-simile da cabana – externa e internamente, do porão e da floresta. Depois, a coisa toma outros rumos, mas a sinceridade da homenagem permanece vívida. E a inventividade do roteiro também. Coisa rara de se ver. Recentemente, penso que somente o filme “Tucker and Dale vs Evil” conseguiu ser bem sucedido em tal subversão, ainda que enveredando diretamente pela comédia de erros. “O Segredo da Cabana” é um pouco mais sério, conseguindo assim um impacto maior nas cenas de violência. No lugar do humor, transparece a ironia. E a ironia, em um filme de terror, é sempre salutar.

(The Cabin in the Woods – 2011)
Direção: Drew Goddard
Roteiro: Drew Goddard, Joss Whedon
Elenco: Kristen Connolly, Chris Hemsworth, Richard Jenkins,  Bradley Whitford, Anna Hutchinson, Franz Kranz

Postado por Nery Nader Jr às 17:57

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quinta-feira, agosto 16, 2012


“O Vingador do Futuro” (Len Wiseman)

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Quem sou eu? A indagação, que deveria servir apenas para Douglas Quaid, o personagem de Colin Farrel, acaba servindo também para o filme que ele protagoniza. A crise de identidade faz com que comecemos assistindo a uma grata ficção científica, capaz de explorar com maestria temas caros ao gênero, para terminarmos em um filme de ação desenfreada e situações forçadas – uma aparente exigência para os blockbusters atuais, que precisam crescer em todos os sentidos do meio pro fim, não deixando mais espaços para jornadas pessoais - é sempre o mundo todo (ou quase) que precisa ser salvo. Isso, infelizmente, acaba por enfraquecer o filme, quase nos fazendo esquecer das boas ideias iniciais.

Na realidade, “O Vingador do Futuro” atual é um remake do filme homônimo de 1990, dirigido por Paul Verhoeven e protagonizado por Arnold Schwarzenegger. E ambos são baseados num conto de Philip K. Dick. A diferença é que Marte – fundamental na trama do conto e mais ainda do primeiro filme – deixa de ser um destino possível na versão recente. Agora, tudo acontece no nosso planeta mesmo que, devastado por uma guerra biológica de proporções globais, possui apenas duas áreas habitadas – Europa e Oceania. E esta áreas, por alguma razão não explicada, não contam mais com aviões para que as pessoas possam ir e vir. Agora é preciso atravessar o núcleo da Terra. Eu sei que a premissa soa forçada, mas visualmente é tudo interessante. Acontece que de um lado ficam os privilegiados e do outro os operários, que precisam cruzar o planeta diariamente para realizar os serviços braçais, sendo segregados e coisa e tal. Quaid é um desses trabalhadores, que decide tentar um implante de memória para “lembrar” de coisas que nunca viveu. Mas as coisas não acontecem como o esperado, e nem são o que parecem. E Quaid se vê perseguido pela polícia e por revolucionários contrários ao regime. Falar mais seria estragar algumas boas surpresas (para quem não viu ou não lembra do filme original). Pelo menos até a hora em que as boas cenas de ação do início dão lugar a outras cada vez mais inverossímeis, sendo que uma delas, dentro e fora do “elevador” que atravessa a Terra, exige uma suspensão da descrença que para mim se perdeu fácil no meio do trajeto.

Ainda assim, o filme mantém outros pontos positivos. A direção de arte e os efeitos visuais, por exemplo. O design das cidades, nos dois extremos do planeta, é muito elaborado. E, claro, o diretor deve ser fã de carteirinha de Blade Runner. A cidade superpovoada, as influências orientais, a chuva, os guarda-chuvas, os néons, o apartamente de Quaid e até mesmo a presença de um piano... tudo é muito “inspirado” no filme de Ridley Scott. Além disso, o filme homenageia o seu antecessor, desde a mulher com três seios até a senhora de casaco amarelo (seria uma ponta do Schwarzenegger?)

Pena que as forçadas de barra no final tirem muito da força do filme. Porque fica complicado engolir a travessia do planeta pelo lado de fora, o chanceler que mais parece um ninja e aquele teatro desnecessário no fim, quando era só matar e tudo se resolvia.
E por fim, será que alguém poderia dizer pro Len que todo mundo já entendeu que existe a difração de luz nas câmeras dele?

(Total Recall – 2012)
Direção: Len Wiseman
Roteiro: Kurt Wimmer, Mark Bomback
Elenco: Colin Farrel, Kate Beckinsale, Jessica Biel, Brian Cranston, Bill Night, Bokeen, Woodbine
Duração: 118 min.
Distribuidora: Sony Pictures Brasil
Classificação Indicativa: 14 anos

Postado por Nery Nader Jr às 18:35

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“Corações Sujos” (Vicente Amorim)



É sempre gratificante poder ver pequenas histórias da nossa História, muitas vezes desconhecidas, ou quase esquecidas. Pouco importa se tais histórias foram romanceadas ou mesmo adulteradas durante a transposição. É tudo ficção, afinal de contas. O importante é que elas sejam boas e se sustentem enquanto cinema.

“Corações Sujos” tem uma boa história, contada em um ritmo lento – quase oriental, arriscaria eu. A produção é caprichada, o elenco é ótimo e a direção de Vicente Amorim é competente. Porém, parece que falta alguma coisa...

Talvez falte história a esta boa história. Afinal, por vezes, ela parece meio presa num looping. Senti que a “cegueira” do protagonista se alongou além do tempo, meio que para justificar mais acontecimentos.

Ainda assim, existem bons momentos, como o jantar do casal principal, feito só de olhares. O sangue vermelho no chão branco também é perfeito, mas a repetição, com o algodão, é só isso: uma repetição. Outro incômodo que eu não encontrei justificativa foi para vários takes meio desfocados, meio enevoados num blur esquisito. Vale dizer ainda que o ator brasileiro de maior destaque, Eduardo Moscovis, surge meio jogado na história. Afinal, apresentado como sub-delegado, ele pouco delega, e menos ainda investiga.

Por outro lado, os momentos explícitos de intolerância, honra, desonra e realidades distorcidas são bem explorados, ainda mais por refletirem uma parte da história desse nosso país tão sem História.

(Corações Sujos – 2011)
Direção: Vicente Amorim
Roteiro: David França Mendes, Fernando Morais (livro)
Elenco: Tsuyoshi Ihara, Takako Tokiwa, Eiji Okuda, Shun Sugata, Eduardo Moscovis
Duração: 107 min.
Distribuidora: Freespirit / Downtown Filmes
Classificação Indicativa: 14 anos

Postado por Nery Nader Jr às 18:32

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“O Vingador do Futuro” (Paul Verhoeven)



Com o lançamento da nova versão de “O Vingador do Futuro”, nada melhor do que rever o antigo clássico, inclusive em busca de uma justificativa para mais um remake entre tantos que hollywood acostumou-se a fazer.

E, para minha surpresa, pude perceber que o filme de 1990 vem sendo superestimado, inclusive por mim. Eu não lembrava tanto assim da história ou da produção. Recordava apenas que os efeitos especiais tinham me surpreendido. E que Verhoeven conseguira imprimir sua marca. Nada mais restava na minha memória.

Pois bem, o fato é que “O Vingador do Futuro” envelheceu mal. Sua visão de futuro é datada, limpinha e berrante. Até o bairro mutante, em Marte, é colorido e bonitinho demais. A cantina de Mos Eisley, por exemplo, consegue ser mais soturna!

Além disso, Schwarzenegger não convence como desmemoriado. E isso prejudica um tanto da verossimilhança. Sharon Stone se sai melhor, ainda que num papel relativamente pequeno, ajudada pelo auge da sua beleza. Ronny Cox e Michael Ironside nos entregam ótimos vilões, sendo que o primeiro repete o “executivo-do-mal” lá de “Robocop” e o segundo parece estar se preparando para viver o duríssimo comandante Jean Rasczak em “Tropas Estelares”.

Aliás, por falar em “Robocop”, do mesmo Verhoeven, dá pra sentir a mão de Hollywood pensando em “O Vingador do Futuro”, já que no filme anterior tal diretor foi muito mais satírico, violento e, por quê não?, brilhante.

De qualquer forma, o filme se mantém como uma belo retrato de um futuro que só poderia ser cometido mesmo na fatídica transição entre as décadas de 80 e 90.

(Total Recall – 1990)
Direção: Paul Verhoeven
Roteiro: Ronald Shusett, Dan O’Bannon, Jon Povill, Gary Goldman
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Ronny Cox, Michael Ironside, Sharon Stone, Rachel Ticotin
Duração: 113 min.
Distribuidora: TriStar
Classificação Indicativa: 14 anos
Gênero: Ficção/Ação

Postado por Nery Nader Jr às 18:27

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quinta-feira, agosto 02, 2012


“Bel Ami – O Sedutor” (Declan Donellan, Nick Ormerod)



Filme de época com Robert Pattinson encabeçando o elenco pode sugerir um romancezinho açucarado feito sob medida para as fãs suspirarem pelo seu galã. Mas quem conhece um pouquinho da obra de Guy de Maupassant, escritor francês do século XIX e autor da novela que este filme adapta com capricho, já espera um pouco mais, incluindo na receita muito cinismo, sordidez, mesquinharia e o mais puro alpinismo social. E é a força desta história que garante o interesse, já que as interpretações são convincentes, mas nada surpreendentes, sendo que Pattinson não escapa de sua típica canastrice, que enfraquece um tanto o seu personagem. As atrizes que o cercam se saem um pouco melhor, mas nada assim tão marcante. A trilha sonora, por outro lado, possui vida própria, e emoldura muito bem os momentos de pompa e circunstância e também os de suspense e tensão. Pena que a direção prefira um certo esquematismo, buscando um tom aristocrático que muitas vezes beira o burocrático. Um pouco de ousadia não faria mal a ninguém. Afinal, não é porque o filme é de época que a direção também precise ser. No fim, é mais uma vez o texto de Maupassant, capaz de sempre escapar do moralismo, que acaba salvando o filme da mesmice pura e simples.

Postado por Nery Nader Jr às 17:40

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