sexta-feira, fevereiro 28, 2014


“As Aventuras de Peabody & Sherman” (Rob Minkoff)



Nunca fui muito fã dos desenhos do estúdio Jay Ward, responsável por “George – O Rei da Floresta”, “Polícia Desmontada”, “Alceu e Dentinho” e “Sapula Pula”. Na realidade, só lembro mesmo de ter visto alguns poucos episódios. E só dos dois primeiros da lista. Da animação “Peabody’s Improbable History” (que nem nome nacional eu achei) eu sei que nunca passei perto. Por isso mesmo, imaginava que esta adaptação feita pela DreamWorks fosse resultar deveras desinteressante.

Só que não. A animação é realmente divertida, alcançando tantos os fãs hard de ficção científica quanto aqueles que curtem brincadeiras históricas. Possui um ritmo bastante dinâmico, um design legal tanto dos personagens quanto dos cenários e algumas piadas bem sacadas (inclusive para adultos). Oscilando períodos históricos variados (Revolução Francesa, Guerra de Troia, Renascentismo, Egito Antigo), “As Aventuras de Peabody & Sherman” consegue manter a atenção e o fio da meada, inclusive quando surge uma terrível ameaça para o continuum espaço-tempo e as explicações podem soar mais confusas. A presença de figuras histórias só aumenta o interesse, pois tal subterfúgio nunca surge descontextualizado.  

Porém, além de toda a ação e viagens no tempo, o roteiro é feliz também, e principalmente, por abordar temas menos óbvios, como o conceito estabelecido de família. O fato de um cão, inteligente e bem articulado, deter a guarda de uma criança é posto em cheque quando Sherman reage a um ato de bullying. O pai “diferente” (as aspas são propositais) se vê então obrigado a provar que é adequado para desempenhar a função. E o óbvio fica mais óbvio, mas não menos importante: são os laços afetivos que configuram uma família e não gêneros, números ou graus. Tal tema me parece bastante atual e muito bem inserido em uma animação “família” de ritmo animado e aparência leve e rasteira. É claro que os conflitos se resolvem sem grandes problemas, ainda mais porque existem mais subtramas e problemas para serem resolvidos. Mas não deixa de ser relevante a mensagem encontrada nas entrelinhas. E isso, por si só, já me ganhou.

Mr. Peabody & Sherman (2014)
Diretores: Rob Minkoff
Roteiristas: Craig Wright
Elenco (vozes): Ty Burrell/Alexandre Borgues, Max Charles, Ariel Winter           

Postado por Nery Nader Jr às 11:00

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sexta-feira, fevereiro 21, 2014


“Um Conto do Destino” (Akiva Goldsman)



Adoro filmes com um claro transtorno dissociativo de identidade. Filmes que não sabem bem o que são, quantos são ou em que gênero se situam. Filmes difíceis de serem vendidos e que poucos compram. Filmes que exigem um desprendimento e um mergulho meio cego em seu universo pantanoso.

“Um Conto do Destino” é assim. E mesmo assim é bem legal. Pelo menos para quem conseguir embarcar na fórmula estapafúrdia que mistura romance, fantasia e papalvices. Quase como um Neil Gaiman adocicado e absurdamente piegas.

O filme, na verdade, exige muito mais do que o cartaz ou o trailer supõem. Entretanto, quinze minutos de exibição são mais do que suficientes para você saber se vai engolir esta viagem ao mesmo tempo tola e corajosa.

A adaptação de Akiva Goldsman para o volumoso romance de Mark Helprin abusa da magia, do romantismo e do improvável. E no fundo é a velha história do bem contra o mal – só que com muitas interferências do destino. A trama vai além do puro romance que as imagens prévias poderiam supor (e isso é bom). O propósito final do “herói” Peter Lake (Colin Farrell) me lembrou bastante um velho conto de Natal do Homem-Aranha nas HQs, em que o Vigia interfere no destino dos terrestres não para salvar o universo, mas apenas uma ínfima fração dele. Piegas, sem dúvida. Mas capaz de divertir quem sente falta de filmes honestamente bobinhos e sentimentaloides.

A direção de Akiva reforça tais características ao abusar dos efeitos de luz, da fotografia “iluminada” do pai da Zooey Deschanel e dos efeitos especiais quase que propositadamente artificiais. O ritmo da história é legal, a ruptura temporal também, e os protagonistas (Farrell e Jessica Brown Findlay) defendem com garra os seus personagens. William Hurt também está bem, enquanto Russell Crowe mergulha em uma caricatura divertida (onde ele é quem parece ter se divertido mais). E Will Smith surge numa ponta curiosa e despretensiosa que mantém o clima inverossímil do filme.

O final incomoda um pouco mais, por conta do seu lirismo barato – tanto que consegui pensar em um desfecho bem melhor sem mudar o ritmo dos acontecimentos. Mas dá para relevar (ainda mais por manter a integridade desintegrada do filme como um todo).

“Winter’s Tale” (2014)
Direção: Akiva Goldsman
Roteiro: Akiva Goldsman
Elenco: Colin Farrell, Jessica Brown Findlay, Russell Crowe, William Hurt, Will Smith

Postado por Nery Nader Jr às 18:06

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quinta-feira, fevereiro 20, 2014


“Robocop” (José Padilha)



De um bom tempo pra cá os remakes viraram reboots na tentativa de fugirem das comparações entre xerox e original. Mais do que refilmagens, os filmes agora se propõem a reimaginar o universo dos clássicos.

Claro que tudo isso é pura balela da indústria hollywoodiana. Os filmes continuam sendo refeitos em busca da bilheteria e da aceitação por parte de uma multidão que não conhece o original e nem quer conhecer.

Dito isso, resta à equipe “criativa” (com aspas propositais) oferecer algo novo, ousado e capaz ainda de, ao mesmo tempo, ser reverente com o passado e subverter suas convenções. Tarefa nada fácil e quase nunca priorizada. A solução normalmente encontrada é criar um genérico explosivo e rasteiro. A essência você deve buscar no original – se é que o original a tem.

Talvez estes remakes não devessem ser comparados com as obras que os inspiraram. Mas como eles sempre tentam dialogar com o passado torna-se inevitável sobrepor as coisas.

E nesta sobreposição, o “Robocop” de José Padilha perde feio para o de Paul Verhoeven. O primeiro era muito mais ousado, ácido, satírico e afiado – e sem deixar de ser divertido. Os momentos antológicos se empilhavam uns sobre os outros e ainda hoje conseguem ofuscar o “Robocop” atual em quase todos os momentos. A própria simplicidade quadrinística da história original funciona bem melhor do que os dilemas morais e os dramas familiares de agora.

Nem por isso o novo “Robocop” é ruim. A reconstrução é interessante, o ritmo (desacelerado) é correto e o elenco, de uma forma geral, sabe garantir consistência aos seus papéis. A direção de Padilha segue o perfil que o consagrou nos dois “Tropa de Elite” e, nas cenas de ação, percebemos com mais clareza a assinatura do diretor.

Porém falta a vilania, a sanguinolência e aquele tom mordaz do filme original. A relação de Alex Murphy com a família parece tão artificial quanto o seu novo corpo. Falta substância neste aspecto tão importante do roteiro. E parece faltar também uma tensão genuína e um antagonista de peso.

As homenagens ao filme original surgem a todo momento, inclusive com a releitura do sensacional tema de Basil Poledouris a encorpar a entrada do título do filme. Mas o que deveria soar como “soubemos homenagear o original mas estamos entregando algo novo e bem melhor” ecoa como “estas homenagens ao original são o que este novo filme tem de melhor”.

Robocop (2014)
Direção: José Padilha
Roteiro: Joshua Zetumer
Elenco: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Samuel L. Jackson

Postado por Nery Nader Jr às 18:02

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sexta-feira, abril 05, 2013


“Mama” (Andrés Muschietti)



Tensão. Arrepio. Medo. Susto. Pavor.

Quem gosta de terror quer mais é sentir tudo isso. Só que tudo isso é sempre diferente de pessoa para pessoa. Aliás, como qualquer sentimento. E quando um terror não dá medinho, ou um susto banal, ou pelo menos um banho de sangue providencial, então de nada adianta um bom roteiro, uma direção competente e um bando de gente que realmente sabe atuar.

Dito isso, preciso dizer também que eu adoro filmes de terror. Desde que eles consigam meter medo. Ou então, que sejam suficientemente exagerados para simplesmente divertir. Meu problema se situa justamente no meio termo entre estes dois extremos, em filmes que não sabem simplesmente sugerir o bom medo e, ao mesmo tempo, têm medo de exagerar o suficiente para que se transformem em um pastiche de terror.

“Mama” é assim para mim. Por (muitas) vezes o filme esquece o poder da sugestão e mostra bem mais do que deveria. Desde o início, na verdade. Se os fatos do prelúdio dessem mais espaço para a nossa imaginação, os eventos do meio em diante teriam muito mais força.

Obviamente, existem bons momentos. A cena que mostra o corredor, a porta do quarto e a menina mais nova “brincando” é genial. A homenagem ao curta que deu origem ao filme também é forte e interessante.

O longa, porém, exagera de tempos em tempos. O visual da entidade é bem legal, mas ela aparece bem mais do que devia. Principalmente no final, que chega a ser piegas e um tanto quanto megalomaníaco. Existem também os tradicionais clichês do gênero e alguns sustos fáceis (e totalmente dispensáveis).

Tecnicamente o filme é muito bem feito, com uma direção sóbria e por vezes criativa, um elenco consistente (as meninas são ótimas) e um roteiro com um viés diferente, ainda que meio truncado em alguns momentos. Porém, ao final, o que realmente fez falta foi o medo. E esta é a maior falta que um filme de terror pode cometer.

Mama (2013)
Direção: Andrés Muschietti
Roteiro: Andrés Muschietti, Barbara Muschietti, Neil Cross
Elenco: Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier, Isabelle Nélisse,
Daniel Kash

Postado por Nery Nader Jr às 10:41

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sexta-feira, março 22, 2013


Piá




Piá é piá. Mas o que é piá para quem está acima do Trópico de Capricórnio?

Piá é menino, guri, criança mesmo. Corre a esmo. Esfola os joelhos. E foge dos conselhos. Apronta. Afronta. E ainda assim, é do bem.

Piá é um universo. E vice-verso. Sem rima.

Piá também aceita sobrenome. E o sobrenome, geralmente, é o nome do pai. Mas o pai é o único que não usa o sobrenome pro piá. Por exemplo, o Piá do João é assim chamado por todos, menos pelo João. O termo é usado, geralmente, quando estão todos na varanda e percebem que o piá esta perto demais do açude. Aí, alguém que não o João grita logo: “Piá do João, cuidado pra não cair na água!”. Só o grito é permitido. No máximo um levantar da cadeira. Mas sem aproximação, que isso é só pro João. 

Piá também pode ser pançudo. E nem por isso, barrigudo. Trata-se apenas de um piá que pensa que sabe mais do que sabe. Mas não sabe. E se mete mesmo assim onde não é chamado, implorando por uma bordoada que a lei não mais permite.

No fundo, piá pançudo é tudo piá de bosta. E piá de bosta é piá de bosta. Tem mais é que ficar quieto num canto. Mas quem disse que fica? É piá, oras. E piá é tudo piá!

Postado por Nery Nader Jr às 14:14

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Zed’s Dead E William Wilson Também?



Não, o William Wilson só se recolheu. Após passar um certo tempo sendo assombrado pelo fantasma de Edgar Allan Poe, achei por bem deixar o bom e velho WW em paz.

Mas ele continua vivo, soprando informações incongruentes e mensagens subliminares indecentes. Qualquer coisa, eu sempre vou poder usar a desculpa de que “ele me obrigou a fazer isso”.

Esquizofrenias à parte, William Wilson parte para que eu possa alinhar a persona deste blog com a persona que assina o Geek Stop. Simples assim. Eu acho. Eu espero.

Postado por Nery Nader Jr às 11:22

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sexta-feira, março 01, 2013


“Dezesseis Luas” (Richard LaGravenese)



Justamente quando eu achava que nada poderia ser pior do que os filmes da saga “Crepúsculo”, eis que surge este “Dezesseis Luas”.

E olha que eu não fui vê-lo de má vontade. Esperava tão somente um filminho fraquinho, mas não esta bomba total.

A boa vontade era tanta que durante os trinta minutos iniciais, aproximadamente, eu até que estava suportando tudo muito bem. Principalmente porque Ethan Wate (o fraco Alden Ehrenreich), aparentemente o narrador da história (aparentemente porque ele narra apenas uma parte, já que do meio para o fim isso não seria possível) mostrava potencial. O personagem parecia até ser um ser pensante, descolado e inteligente o suficiente para gostar de bons livros e filmes idem. O início do romance dele com Lena Duchannes (Alice Englert) também funcionou. Só que, alguns diálogos decentes depois, a receita começou a desandar. Penso que foi quando entraram em cena os caricatos Jeremy Irons (no piloto automático) e Emma Thompson (terrível, terrível). Ou então quando pipocaram alguns efeitos especiais desnecessários e toda aquela fauna familiar esquisita e chata, oriunda de alguma festa de Halloween de segunda.

A partir daí o roteiro despirocou de vez. A coerência foi para o espaço. Saídas fáceis começaram a aparecer aqui e ali. E cenas constrangedoras, de pura vergonha alheia, se acumulavam sem pudor: fogo na placa, neve no jardim, reflexos azulados no espelho, olhos dourados (e malvados), livros que se fecham sozinhos, caras e bocas do mal. Tudo para tentar dar força a um romance fraquinho e aguado. E longo demais em um filme longo demais.

Ao final, a única coisa que a gente não entende (e nem quer entender) é a razão do título nacional ser “Dezesseis Luas”. Tem a ver com a idade da heroína? Só que então o filme não deveria se chamar “Dezesseis Solstícios de Inverno”?

Beautiful Creatures (2013)
Direção: Richard LaGravenese
Roteiro: Richard LaGravenese, Kami Garcia e Margaret Stohl (livro)
Elenco: Alden Ehrenreich, Alice Englert, Jeremy Irons, Emma Thompson, Viola Davis, Emmy Rossum

Postado por Nery Nader Jr às 18:08

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“Hitchcock” (Sacha Gervasi)



"Hitchcock" é um filme delicioso. Perceba que, ao dizer isso, não estou afirmando que ele é um ótimo filme. É apenas correto. A direção é correta. Os atores estão bem. A trama flui sem percalços. A ambientação é agradável. As escolhas artísticas, enfim, são acertadas, mas nunca surpreendentes.

E ainda assim o filme é delicioso. Principalmente (e talvez unicamente) para quem ama cinema. Porque são os pequenos acontecimentos envolvendo a produção de uma das obras-primas do mestre do suspense ("Psicose") que tanto empolgam. São os mitos, as fofocas de bastidores, o folclore ao redor do cineasta e de suas musas que tanto agradam os cinéfilos e os fazem rir das brincadeiras, das referências e das homenagens presentes no roteiro.

A trama envolvendo o relacionamento de Hitch com sua esposa Alma quase não interessa. Serve para fazer o filme andar, em sua forma mais convencional, com atos bem definidos, problemas a serem resolvidos e desfechos satisfatórios. Nada capaz de criar um envolvimento emocional maior.

Porém, é nos diálogos certeiros, na obsessão desmedida na medida certa e nos meandros cinematográficos que reside o charme de "Hitchcock". Anthony Hopkins está muito bem, ainda que a maquiagem se esforce sem sucesso em transformá-lo no diretor. Em momento algum eu consegui enxergar o Hitchcock conhecido pelas pontas em seus filmes, pela autopromoção e por apresentar o "Alfred Hitchcock Presents" na TV. Mas ainda assim, o tom interpretativo escolhido por Hopkins me agradou. Helen Mirren também está muito bem. É fácil entender todos os dilemas e escolhas de sua personagem. Gostei ainda da candura da Janet Leigh de Scarlett Johansson e da amargura da Vera Miles de Jessica Biel. E o Anthony Perkins de James D`Arcy é simplesmente estarrecedor em sua semelhança, tanto física quanto comportamental, mesmo contando com um pequeno tempo de tela.

A direção de Sacha Gervasi é apenas burocrática. Há diversas homenagens visuais e até a tentativa de criar algum suspense nos momentos paranóicos de Hitch. Mas nada além do padrão.

De qualquer forma, quem gosta de cinema e conhece um pouco de sua história vai achar "Hitchcock" delicioso mesmo sem ser cinema de alta qualidade. E quem não conhece nada sobre o gênio pode até se interessar pela obra e descobrir "Psicose" e outras pérolas. E se o filme for capaz disso já podemos dizer que é um bom filme.

Hitchcock (2012)
Direção: Sacha Gervasi
Roteiro: John J. McLaughlin, Stephen Rebello (livro)
Elenco: Antonhy Hopkins, Helen Mirren, Scarlett Johansson, James D`Arcy, Jessica Biel, Danny Huston, Tony Collette

Postado por Nery Nader Jr às 15:57

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“Colegas” (Marcelo Galvão)



“Colegas” é um filme bem-intencionado. Mas você conhece o ditado...

A premissa é ótima: três jovens com síndrome de Down fogem do instituto onde viveram desde crianças em busca dos seus sonhos. Stalone (Ariel Goldenberg) quer conhecer o mar, Aninha (Rita Pokk) sonha em se casar com um cantor e Márcio (Breno Viola) quer pura e simplesmente voar. Na fuga, roubam o Karmann-Ghia conversível do jardineiro e se aventuram incorporando personagens dos filmes que assistiram, repetidas vezes, durante o período que trabalharam na videoteca do instituto.

O filme tem bons momentos, algumas piadas ótimas e referências idem. Porém, existem excessos e banalizações que quase põem tudo a perder. A locução do Lima Duarte, por exemplo, que no início do filme explica o passado e começa a delinear o futuro de cada um dos heróis, sempre de forma divertida e dinâmica, vai se tornando cansativa e repetitiva à medida que o filme avança. Além disso, muitas das piadas, principalmente com os coadjuvantes, são toscas e sem-graça. O humor mambembe desvia-se das sutilezas, mas também das gargalhadas. Os trechos com os telejornais e programas de TV soam falsos e travados. Sensacional mesmo só a entrevista com o Policial Rodoviário – hilária!

Existem ainda as referências cinematográficas, que às vezes funcionam, mas na maior parte do tempo surgem deslocadas e forçadas, como quando remetem gratuitamente a filmes como “Psicose” ou “Taxi Driver”. Melhor sorte têm as referências mais sutis a “Blade Runner” ou a “Uma Mulher para Dois”.

O filme apresenta cenas naturalmente poéticas e outras forçadamente poéticas. E muitas panorâmicas das belas locações parecem se prolongar indefinidamente tão somente para aumentar a metragem do filme. O clímax policialesco também soa forçado, ainda que o desfecho seja bem legal.

Temos ainda, com destaque, a trilha sonora repleta de clássicos (e não-clássicos) de Raul Seixas. Algumas canções se inserem bem no contexto das cenas. Outras entram deslocadas. Mas de qualquer forma, ouvir “SOS” ou “Tá na Hora” em um filme é sempre legal.

Ao final da exibição me pus a pensar que, talvez, com algumas escolhas diferentes, “Colegas” pudesse se tornar antológico. Mas é tão somente correto, com muitos altos e baixos.

Colegas (2012)
Direção: Marcelo Galvão
Roteiro: Marcelo Galvão, Ricardo Barretto
Elenco: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte

Postado por Nery Nader Jr às 15:42

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sexta-feira, fevereiro 22, 2013


“Duro de Matar – Um Bom Dia para Morrer” (John Moore)



“Duro de Matar” é uma cinessérie curiosa. Afinal, o que a define não são apenas personagens ou atitudes – características que sustentam os Rambos e Freddy Kruegers da vida. O conceito básico, em “Duro de Matar”, é o de colocar sempre John McClane na hora e local errados. A única coisa certa é que ele é o cara certo para resolver a parada.

Se no primeiro e segundo filmes ele estava confinado (ou quase) a um ambiente hostil, porém restrito (Nakatomi Plaza e Aeroporto Dulles, respectivamente), a partir do terceiro tudo se expande. É neste que Nova York se torna refém e, seguindo tal projeção geométrica, no quarto filme são os Estados Unidos como um todo que ficam à mercê de um cyber-terrorista.

E agora, no quinto filme, em que universo John irá se aventurar?

Na Rússia, é claro. E com as perspectivas negativas de que o refém, desta vez, pode ser o mundo todo! Mas tal escopo aumentado não se traduz em um filme excessivamente megalomaníaco. A parte quatro era bem mais (e até a três, se pensarmos bem). Já em “Um Bom Dia para Morrer”, relações familiares deixam o filme um tiquinho mais pé no chão. Sabemos que McClane, desde “Duro de Matar – A Vingança”, é obrigado a agir com parceiros relutantes. Desta vez a parceria acontece com o próprio filho, com quem ele não fala há séculos. É claro que ambos terão de discutir a relação – isso se sobrar tempo em meio às explosões, tiroteios e perseguições.

O certo é que as cenas de ação são bem dosadas. O que, em se tratando de “Duro de Matar”, sempre significa uma overdose. Porém, o CGI aparece de forma mais sutil e orgânica, quase nos fazendo acreditar que toda aquela destruição automobilística realmente aconteceu em Moscou – ou em Budapeste (o fato é que, na maioria das cenas, as trucagens digitais foram usadas mais como pano de fundo, dando muito trabalho para a interminável galeria de dublês).

John Moore (diretor de vários filmes de ação sem tanta expressão) segura bem a peteca. Há alguns excessos e maneirismos com a câmera, que volta e meia ele treme tentando valorizar a tensão, mas nos momentos-chave o cara sabe como enfatizar o que precisa ser enfatizado sem criar confusão.

O roteiro, obviamente, não é um primor literário, mas apresenta boas soluções e algumas surpresinhas legais. Claro que inconsistências existem, mas em filmes assim a gente releva na boa.

Por fim, temos Bruce Willis mandando bem como ele sempre faz com o McClane. No começo o personagem surge um tanto amargo, mas é só bicho pegar para ele se soltar soltando pérolas de bom quilate. Inclusive uma recorrente, e levemente cansativa, ao dizer que está de férias. Férias... sei...

(A Good Day to Die Hard – 2013)
Direção: John Moore
Roteiro: Skip Woods
Elenco: Bruce Willis, Jai Courtney, Sebastian Koch, Yuliya Snigir, Mary-Elizabeth Winstead

Postado por Nery Nader Jr às 18:18

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“O Reino Gelado” (Vlad Barbe e Maksim Sveshnikov)



Nos primórdios das animações computadorizadas, a Pixar reinava absoluta quando o assunto era qualidade técnica. Logo atrás vinham a Dreamworks e a Blue Sky. E a uma grande distância destas tínhamos uma infinidade de produções com menos definição.

Hoje, qualquer país com estrutura e verba (que nem precisa ser mais tão astronômica), consegue fazer trabalhos bem interessantes, tecnicamente falando. Mas aí surge outra qualidade (ainda mais importante) e sempre (ou quase sempre) exibida pela Pixar e também dificilmente igualada: o roteiro bem cuidado. 

Exemplo desta discrepância entre técnica e texto surge na animação russa "O Reino Gelado". Com belas texturas, cenários interessantes e um design caprichado, o filme peca justamente no roteiro desenvolvido para reapresentar uma história clássica de Hans Christian Andersen. No filme, o conto de fadas foi adaptado de forma rasa, com personagens sem características marcantes e coadjuvantes cômicos sem a menor graça. A jornada apresentada não revela grandes conflitos ou evoluções, tornando-se episódica ao mostrar situações que nada acrescentam à trama e que possuem tão somente a função aparente de aumentar a duração do filme. Existem repetições de situações que deveriam ser engraçadas, mas que não agradam nem da primeira vez - o que dizer então da segunda ou terceira que voltam a aparecer...

No trama, o mundo fica mais frio a cada dia por conta da fúria da Rainha da Neve, que quer esfriar as almas humanas a qualquer custo. Os mestres-vidreiros, que poderiam reverter a situação, são subjugados um a um. Restam então os dois filhos do mestre Vegard, que ainda bem pequenos conseguem escapar do ataque do vento polar e são criados em um orfanato, sem conhecimento de seus laços consanguíneos. A Rainha acaba descobrindo que Vegard possuía um herdeiro (sem se dar conta de que na verdade ele tinha dois filhos) e aprisiona o menino Kai, enquanto Gerda  - a irmã - parte para o resgate.

Nas aventuras que se seguem pipocam referências a filmes como “O Senhor dos Anéis” e “As Crônicas de Nárnia” (se bem que o conto é muito anterior a estas obras e dizem inclusive que C. S. Lewis teria se inspirado na Rainha da Neve para criar a Feiticeira Branca). Além destas referências mais óbvias, consegui também notar algumas que remetem ao filme "Pink Floyd The Wall" - seja na semelhança do diretor do orfanato com o professor de Pink, seja na flor carnívora da bruxa. Mas talvez sejam apenas pequenas viagens minhas...

Com uma boa premissa, é pena que o filme não consiga nos entregar personagens fortes e situações idem. Os conflitos entre Gerda e o troll Orme são incoerentes e vagos, quando deveriam ser um dos alicerces do filme. Resta então o belo visual e também a boa dinâmica no clímax da história - que destoa do resto do filme pelo bom ritmo e pela ação tipicamente hollywoodiana. Mas é muito pouco para nos cativar. Faltou substância.

(Snezhnaya Koroleva – 2012)
Direção: Vlad Barbe, Maksim Sveshnikov
Roteiro: Vlad Barbe, Vadim Sveshnikov
Elenco: Anna Ardova, Lyudmila Artemeva, Cindy Robinson, Anna Shurochkina, Jessica Strauss, Erin Fitzgerald, Wendee Lee

Postado por Nery Nader Jr às 18:05

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